Por Carlos Duarte; Fotos de Sílvio Sá, Rogério Prestes e Lu Pinheiro
“Toda vez que vejo um adulto em uma bicicleta, eu já não me desespero quanto ao futuro da raça humana”. (H.G.Wells)
Quando nos reunimos para definir o atual calendário de trilhas e seus guias responsáveis, surgiu a dúvida: quem seria o nosso “puxador” no dia 14 de abril, na região do Mar de Pinheiros? De pronto eu sugeri: “- Sílvio Sá!” Não poderia ter tido melhor ideia. O cara conhece a região e seus meandros como a palma de sua mão e nos brindou com um belo e exclusivo percurso de aproximadamente 35 km, formado por estradões, singles, floresta, cursos d’água, subidas, descidas e um verdadeiro oásis no meio de tudo isso. O lado ruim foi constatar a intensa ação de grileiros de terras na área, que estão invadindo, cercando e derrubando a vegetação para os mais variados objetivos. Por isso não me agrada perder qualquer oportunidade de pedalar por lá. Cada vez que volto à região, sinto que logo chegará o dia que não será mais possível praticar nosso esporte da forma que o fazemos hoje naquelas bandas.
Estamos em uma época do ano muito favorável para se estar em contato com a natureza do planalto central. As chuvas diminuíram sensivelmente e a estação seca ainda não se instalou. O cerrado está verde e exuberante.
Para essa aventura, compareceram nesta bela e ensolarada manhã de sábado oito destemidos ciclistas: Sílvio, Demeure, Isa, Rogério, Luciana, Marco Aurélio, Zé Henrique e claro, eu. Começamos pelas largas estradas do Morro da Cruz, repletas de subidas, descidas e de onde podíamos ver ao longe a floresta de pinheiros.
Antes do Mar de Pinheiros, um oásis
O Zé, Marco e Rogério, mais dispostos, começaram a se destacar dos demais e naturalmente se distanciaram à frente do grupo, guiados por GPS.
Só que acabaram perdendo a providencial parada no bar localizado no meio do percurso, onde secamos rapidamente uma pet com dois litros de Coca-cola gelada, acompanhada de sanduíches, barras de cereal e castanhas.
Baterias recarregadas, partimos para a metade final na floresta de pinheiros – que recebeu o nome de “mar” porque nos dias de vento, o barulho produzido pelas folhagens das árvores são idênticos ao som das ondas do oceano; fechando-se os olhos, tem-se a perfeita sensação de estar numa praia. Infelizmente nesse dia não havia vento nenhum, então os que lá estiveram pela primeira vez tiveram que se contentar apenas com a estória. Se me permitem uma analogia, mesmo sem o ruído das lendárias “ondas”, sempre podemos surfar seus morros da mesma forma com nossas “bike-pranchas”.
Pedalar entre as árvores é muito agradável. Em um dia de calor como esse, o microclima ameniza consideravelmente o esforço e faz toda a diferença. Sem falar no cenário diferenciado, que nos traz a lembrança dos vídeos de mountain bike gringos, principalmente os filmados nas florestas canadenses. Lá nos reencontramos por alguns instantes com o trio da frente.
Logo após, nosso grupo sofreu uma baixa. A Lu, que estava retornado às trilhas depois de algum tempo parada, sentiu-se esgotada pelo esforço sob o sol. Como ainda tínhamos pela frente uma forte subida antes do fim, decidimos deixa-la descansando em uma pequena vendinha no povoado Nova Betânia, numa mesa sob a sombra de uma árvore frondosa, com direito a “din-din” – também conhecido como “geladinho” – até que voltássemos de carro para resgata-la. A Isa também ficou para fazer companhia e não deixa-la sozinha.
Parti com Sílvio e Demeure para a parte final, enfrentando a famosa e temida subida do hotel em ruínas sob o sol do meio-dia, tornando-a ainda mais difícil. Com minha velha aro 26″, não foi muito fácil acompanhar o ritmo dos dois em suas novíssimas 29ers.
Chegamos nos carros, nos abastecemos no mercadinho das antenas e fomos buscar as amigas desgarradas. Terminamos a aventura num alegre bate-papo, regado à água de côco, cerveja, água gelada e “din-din” de manga.
Ah sim! Comecei esse post com uma frase do vanguardista escritor inglês do século passado H. G. Wells, autor de “A máquina do tempo”, “A ilha do Dr. Moreau”, “O homem invisível” e “A guerra dos mundos”, entre outros. Seu pensamento sobre bicicletas e adultos se mostrou tão visionário quanto sua obra. Finalmente chegamos à era em que a bicicleta é seriamente encarada como uma alternativa viável de transporte limpo, saudável, solidário e sustentável. Ainda bem.
Mas nós já sabíamos disso, não é de hoje também …
Mais fotos: http://www.flickr.com/photos/pedaguasmtb/sets/72157629465630034/