Fotos de Renato Araújo Alves, Wilmar Castro, José de Oliveira Júnior, Daniel Rosa, Mari Rodrigues, David Patrick, Fabiano Alves, Sílvio Sá, Diogo Santos, Eldenice Rocha, Cecília Heinen e Fábio Malaguti
Um dos DIAS mais secos e quentes do ano. um verdadeiro mar de cerrado preservado. sem nenhuma alma viva a quilômetros e pedalando longas distâncias antes do primeiro e único apoio, vários ciclistas não conseguiram completar os 122 km do percurso dentro do Campo de Instrução de Formosa – área do exército brasileiro – no tempo estipulado. tremenda Roubada? programa de índio? Ao contrário, todos adoraram! Para contar como foi essa verdadeira epopeia, o texto abaixo foi escrito pelas várias mãos de alguns que lá estiveram. e um pouco mais de uma centena de fotos foram selecionadas entre as milhares produzidas pelos nossos talentosos bikers fotógrafos e cinegrafistas. Nos acompanhe nessa inédita trilha.
“Depois de centenas de e-mails trocados entre a equipe, eis que conseguimos fechar o tão esperado pedal no Grupo Astros em Formosa. Quando foram abertas as inscrições não imaginávamos um quórum de tamanha dimensão. Mas isso devemos exclusivamente ao nosso artista Carlos Duarte que o Evandro tão bem soube definir: ‘(…) o artista que com seu texto e arte convenceu aquele bando de gente a entrar naquela fria :-) ‘. E essa foi a fria mais quente que já entrei! E faria tudo outra vez. Pois bem, dada a dimensão que o evento tomou, muitas medidas foram sendo tomadas no último mês para que a coisa funcionasse. E funcionasse bem! Tivemos que bloquear inscrições, abrir lista de espera, disparar inúmeros e-mails. Controles e mais controles. Trabalhar com orçamento apertado, sem visar lucro nenhum é sempre muito complicado.
Mas é isso que queremos ser, apenas um grupo de amigos que querem pedalar juntos. E saibam, foi emocionante ver aquele bando de carros se dirigindo para a Fazenda Bonsucesso, ponto zero do pedal.
E mais ainda, quando o Evandro, presidente do Pedaguas, o Tio Kin e o Carlos Duarte subiram e falaram a todos os ciclistas, não teve jeito, me emocionei. Muitas coisas passaram pela minha cabeça naquele momento: o primeiro pedal do Pedaguas, quando nos encontramos no Shopping Maggiore rumo a trilha dos Toneis. Ninguém sabia de nossa existência. E agora, estávamos ali, organizando um evento daquele tamanho! É, a ficha caiu, somos de fato um grupo de mountain bike. E isso implica em muita responsabilidade. A alegria nessa hora se mistura com o medo de que algo saísse errado, pois apenas 2 ou 3 de nós conheciam o caminho a ser percorrido. Mas agora, só restava partir.
E partimos após os agradecimentos e considerações. Um grupo que não estava conosco saiu à frente. Já no quilômetro 19 encontramos um dos rapazes com o nariz esfolado. Ficamos tristes pelo acontecido, e apreensivos também, mas demos graças por não ser ninguém do nosso grupo.
Muitos pelotões foram se formando de acordo a resistência dos ciclistas. Logo o senhor ligeirinho (Antônio Pedro) e seus companheiros (José Henrique, Rodolfo e alguns outros que não sei o nome) foram tomando a ponta. Sem chance de acompanhar aqueles malucos!
Acompanhei vários pelotões, uns mais rápidos, outros nem tanto. Com isso acabei por pedalar uns 15 km sozinha. Mas a sensação de estar numa área com tamanha proteção fez o prazer de pedalar ficar ainda maior. Por vezes tive receio de parar por estar numa área de instrução de tiro, aí só restava pedalar e tentar relaxar e contemplar a paisagem. Me concentrei em chegar pelo menos até o almoço (+/- no km 73).
E por volta das 14h, eu e mais alguns companheiros conseguimos chegar. Completamente exaustos! Lá diversas pessoas já estavam se deliciando da maravilhosa lasanha, refrigerantes e sucos geladinhos, e de um delicioso banho gelado. Eu não resisti, apesar da fome, me joguei na água. Quer dizer, molhei os cabelos. (rs!) A água estava congelante!!!
Estava comendo minha lasanha quando o presidente deu a ordem, em 20 minutos quem não partisse deveria seguir no caminhão do Exército. Reuni forças e mais que depressa calcei minha sapatilha, abasteci o CamelBack e junto com mais 4 amigos tomei o rumo de volta. Eram mais 50 duros quilômetros. Percorremos juntos por todo o tempo. Nenhum de nós com GPS ou rádio comunicador. Só nos guiamos pelos rastros deixados pelas bikes. Mais 3 bikers no alcançaram e, como era de se esperar, nos perdemos. Andamos uns 10 km à mais. Chegamos ao ponto zero já de noite, com apenas uma lanterna.
Pude observar muita coisa legal com mais essa aventura. Coisas do tipo, generosidade de alguns em esperar pelo companheiro que não estava tão condicionado, mesmo sabendo que ele próprio podia ir adiante e chegar muito mais rápido; o compartilhamento de equipamentos, de lanches, de água. Enfim, pude observar a amizade brotando em meio ao cerrado queimado e cinzento. Isso realmente não tem preço!
E o preço que pagamos pela grande estrutura que nos foi oferecida? Ah, isso só é possível quando o intuito é exclusivamente pedalar junto dos amigos! Alguns de nós não conseguiram chegar pedalando ao ponto de refeição, outros tantos não conseguiram retornar ao ponto zero, seja pelo avançado da hora, ou mesmo pelo desgaste da ida, mas o fato é que todos somos vencedores por desafiarmos nossos próprios limites. E isso é o que realmente importa.” Eldenice Rocha
“Nove de março de 2011. O que tem a ver essa data com nosso pedal? Foi neste dia, cerca de dois meses antes do Pedáguas nascer, que eu dei a primeira olhada nesta área fantástica do 6º GLMF-CIF. Eu fiz o primeiro mapeamento pelo Google e o mapa registrou a data. Aliás, se tivéssemos feito a trilha que mapeei nesta época, teríamos possivelmente explodido ao passar pelas áreas de alvo, que eu nem imaginava que existiam. E o sonho de pedalar por este mundão de cerrado concretizou-se neste quatorze de setembro de 2013. Foi tenso! Coloque-se em nosso lugar. Ver aquele monte de gente chegando pra pedalar com você, por um lugar que você nem conhece direito, e todos vão te seguir. E se eu me perdesse? E se alguém se machucasse gravemente? Felizmente, tudo deu certo. Nos preparamos muito, por alguns meses, pra que tudo fosse perfeito.
Fomos muito bem recebidos pelos colegas militares. Fizemos discurso, alertamos para os perigos da área, e partimos. Lá se foi aquele pelotão de quase cem ciclistas.
Logo no começo uma turma quis correr. Eu deixei os apressadinhos passarem e em cinco minutos os encontrei parados. Ué? Se perderam? Que nada! Um acidente feio. Um deles entrou num banco de areia e foi jogado de cara no chão. Os óculos quebraram e rasgaram o seu nariz. Chamamos o resgate e o sempre alerta Sargento Leal resgatou o acidentado. Daí pra frente a correria no pelotão dianteiro continuou. Eu tinha que chegar o quanto antes no Acampamento do Prado, onde seria o nosso almoço, ver como estavam as coisas e liberar o almoço pra quem fosse chegando. Segui correndo. Fomos passando por áreas lindíssimas de cerrado, riachos de águas cristalinas, lagoas cobertas de vegetação e cheias de vida. O cerrado, apesar de estarmos no final da seca, estava verdinho e as plantas estavam floridas.
E quando cheguei no acampamento, que surpresa! Parecia que teríamos uma festa ali, com mesas e cadeiras plásticas embaixo de tendas. Banners de boas vindas, mapa do percurso e uma linda cachoeira para aplacar o calor. Eu fui um dos primeiros a chegar no acampamento e já eram 13h. Os ciclistas poderiam sair no máximo às 15:30h pedalando para chegar ainda de dia ao final da trilha. Passei a negociar com os militares. Pedi ao Sargento Dias se o caminhão do Exército que ali estava poderia resgatar aqueles que não conseguissem voltar. Ele prontamente concordou. Os pelotões foram saindo por volta das 15h. Eu saí do acampamento às 15:30h e os últimos ciclistas ainda não haviam chegado pra almoçar.
Comecei sozinho os 50 km finais da trilha e aos poucos fui alcançando os grupos que saíram antes. Essa parte final foi a mais bela do pedal. Belas áreas de cerrado, morros, o pôr-do-sol às 18h. E depois do sol se pôr, estávamos a menos de 10 km do nosso destino, a fazenda Bonsucesso. E os faróis das viaturas iluminaram nosso caminho a partir daí.
Depois de um banho rápido partimos para a pizzaria La Palma, nossa confraternização pós-trilha.
Bom demais. Um dia pra entrar pra história do Pedáguas.” Evandro Torezan
“Não resta muito o que dizer após narrativas tão competentes como as de Deny e Evandro, então vou tentar ser breve. Porque também não existem muitas palavras que consigam descrever a sensação de bem estar quando se pedala ao lado de tantos amigos, mais de uma centena de quilômetros em meio a um verdadeiro ‘mar de cerrado’ riquíssimo, totalmente preservado. Foram longas e intermináveis subidas e descidas em uma imensa área com entrada restrita desde a década de 70, quando aquelas terras foram desapropriada pela União e transformadas em reserva e campo de instrução militar. Melhor ainda: (sempre muito bem) apoiados pelos militares do CIF e a léguas de distância do ladrão de bikes mais próximo, essa raça desumana que vem crescendo como praga nos grandes centros e interior de nosso país. Nosso esporte envolve riscos, vários sim, mas sem dúvida esse é o que hoje mais tememos.
Sim, é verdade que erramos na dose. A distância da primeira “perna” deveria ter sido um pouco menor. Daria mais tempo para aproveitarmos melhor as atrações do lugar e o nível da trilha desceria de ‘sem noção’ ou ‘muito difícil’ para apenas ‘difícil’. Porém era um percurso inédito. Alguns ciclistas de Formosa já haviam pedalado naquela área, mas nunca o trajeto que fizemos. De dentro de uma Land Rover, como foram os dois reconhecimentos do percurso, tudo parece bem mais fácil de se pedalar. Minha maior preocupação era se a nossa proposta, pedalar por aqueles 120 km entre 9h e 18h era algo possível. E foi, como comprovaram os vários ciclistas que conseguiram completar o percurso proposto. Entre inúmeros feedbacks muito gentis e entusiasmados que recebi, ouvi algumas vezes também a mesma pergunta: ‘Vai ter de novo ano que vem?’. E dou sempre a mesma resposta: ‘Não sei!’ Isso vai depender de muita coisa ainda a acontecer, principalmente da vontade de todas as partes envolvidas na realização desse evento. O Pedaguas é isso, a gente “erra a mão” mas mesmo assim todos adoram!
De resto, ficam a sensação do dever cumprido e o lamento pelos que tentaram se inscrever mas não conseguiram por falta de vagas. Nos dois primeiros dias de inscrições, 80% das vagas já estavam preenchidas. Também sinto pelos inscritos que não conseguiram ou que poderiam ter completado o percurso mas foram obrigados a retornar no veículo de apoio porque não conseguiram sair do acampamento de almoço antes do horário estipulado. Muita gente ficou na dúvida se conseguiria completar um pedal assim mas preferiram ficar sem a resposta sentados no sofá de casa. Vocês tiveram a coragem de ir e testar seus limites, por isso meus parabéns, respeito e admiração. Minha estima e apreço reservo especialmente ao comandante do CIF, o Tenente Coronel Oliveira, que acolheu com entusiasmo nossa ideia e nos ofereceu recepção e apoio dignos das grandes autoridades; ao incansável Sargento Leal, da Comunicação Social do CIF, que não mediu esforços para que o nosso evento fosse seguramente um sucesso. Foi nosso contato constante durante meses, inclusive em seus momentos de folga, coordenador, fotógrafo, apoio e resgate de motocicleta; ao Sargento Dias, profundo conhecedor da área que nos ensinou os caminhos para as maiores belezas existentes no local. Solicitamos a eles apenas uma tenda com uma mesa, a qual concordaram, para termos garantida uma sombra sobre as refeições e a caixa de gelo com as bebidas… E o que fizeram? Capinaram e limparam uma área considerável de mata, construíram uma escada e corrimãos de acesso à queda d’água, uma barragem para aumentar o nível de água no poço para o banho, ergueram três grandes tendas com inúmeras mesas e cadeiras, banheiros masculino e feminino, sinalização, banners e mapas do percurso. No meio do nada.
Como se tudo isso fosse pouco, ainda cederam gentilmente suas viaturas para o resgate dos ciclistas cansados ou muito atrasados. E não foram poucos. Teve até soldado fardado, de coturno e tudo, que voltou pedalando (e muito bem!) na bike de um dos resgatados. Sem essa ajuda, não teríamos conseguido o êxito logístico que obtivemos. “Braço forte, mão amiga” não é apenas um lema, é uma filosofia diuturnamente posta em prática no Exército Brasileiro.
Parabenizo também os amigos Simone, Danilo e Bruno do Projeto DV na Trilha, que sempre apóiam nossas aventuras inéditas e sem noção; o Anderson e o David, condutores que proporcionaram aos deficientes visuais Luciano e Wallace a oportunidade de pedalar conosco, providenciando suas inscrições e o transporte deles e das tandem bikes até Formosa, ida e volta. Tudo isso apenas um dia antes de uma importante competição que também participaram. É sempre muito bom termos a companhia de vocês na trilha, que isso se torne cada vez mais comum e constante. Nosso muito obrigado também à Ana Paula, que foi como apoio das duas duplas em seu carro mas acabou cuidando da ‘cozinha’ do pedal, fez o resgate dos mais cansados e até transportou a bike do tal ciclista acidentado.
À Deny, que cuidou de várias tarefas administrativas, financeiras e de logística; ao nosso amigo Tenente Alexandre Vilela; aos nossos anfitriões Kinzinho, Júnior e Regina, que sacrificaram horas e mais horas de trabalho e lazer na semana antes do evento para que tudo saísse na mais perfeita ordem em seus mínimos detalhes; à Edna e equipe da Delícias Caseiras de Formosa, que capricharam em nossas deliciosas refeições; ao Diogo da Panificadora Boulette, que gentilmente emprestou sua Fiorino para o transporte do almoço; aos nossos motoristas Bianca e Júnior ‘pé-de-pano’, que sacrificaram um sábado para nos apoiar como verdadeiros anjos da guarda; aos amigos ciclistas de Formosa que marcaram presença em nosso pedal, sejam sempre bem vindos.
E para encerrar, ao indispensável Evandro, que mapeou nosso percurso à mão graças a uma falha técnica no último reconhecimento, para que um bom GPS tracklog estivesse à disposição de qualquer interessado. Supervisionou a todos como um maestro. Foi visionário quando imaginou um pedal naquele lugar e sendo o único que nos alertou para diminuirmos o tamanho do percurso ainda no ponto zero. Um democrata quando foi voto vencido, mesmo estando certo. Como um autêntico líder, guiou o pelotão da frente pisando fundo até o local de almoço e acompanhou os últimos dois ciclistas que, já de noite, encerraram a trilha: eu e Adonis. Foi um privilégio compartilhar com vocês todos esses momentos. Soa como um clichê, mas pedalar com tantos amigos um dia inteiro em um lugar como esse, não tem preço realmente.” Carlos Duarte
“Adorei o pedal de sábado em Formosa-GO. Foi o pedal perfeito para o meu retorno às trilhas. Muito bem organizado e cheio de pessoas dispostas a superarem seus limites.” Cecilia Heinen
“Gente, mais um final de semana incrivel proporcionado pelo pessoal do Pedaguas, Exército, família Tio Kin e todos os outros que participaram da organização. Estão todos de parabéns… não podia ser diferente! Todos esses pedais organizados pra Formosa são maravilhosos… Obrigada Deny, Bianca, Carlão , Evandro, Alexandre, Tio Kin e família, pessoal do Exército e todos que eu não citei mas participaram da organização. E obrigada também aos colegas pedalantes que participaram conosco na trilha. Apesar de termos chegado atrasados, nosso apoio foi providencial e curtimos muito também. Valeu por tudo galera! Grande beijo e até a próxima trilha!!!”
Delaine Parreira
“Galera a trilha (…) foi realmente incrível! A organização do Exército de Formosa-GO, junto com a Eldenice Rocha, Carlos Duarte, Evandro Torezan e outras pessoas estavam nota 1000! O percurso não foi nada fácil e ainda levei uma queda! rs! Mas valeu muito a pena, pois a paisagem era deslumbrante, conheci muita gente legal e revi velhos amigos, como o Carlos que me acompanhou durante a trilha! Me diverti muito e ainda quebrei meu recorde: fiz 122 km! Estava quase desistindo, mas consegui concluir! Agradeço aos que me ajudaram, principalmente a noite, pois estava sem lanterna e quando terminei já estava escuro! Parabéns a todos que conseguiram e os que não conseguiram, pois pelo menos tentaram concluir a trilha! Parabéns também à galera do Projeto DV na trilha! O Pedaguas está de parabéns!” Mari Rodrigues
“Mais uma vez passei um dos melhores dias dos últimos tempos em cima de uma bike! Venho agradecer a todos que trabalharam para que isso acontecesse (mesmo sem conhecê-los direito, por enquanto, posso citar alguns Evandro, Eldenice e Carlos). Pedal CIF ASTROS 123 km e 20 km/h, com dor, sofrimento, esforço e muita alegria! Obrigado! (…) garanto a vocês, depois de 72km a lasanha estava divina!!!” Daniel Rosa
“Pessoal, parabéns ao grupo e organizadores do pedal em Formosa!” Fábio Malaguti
“O pedal foi demais! Valeu!!!” Rodrigo Ecoadventure
“Parabéns à todos e especialmente à organização dessa trilha que, apesar de difícil, foi nota 10!!!” Fabiano Alves
“Parabéns a todos os pedaguenses que foram na trilha de Formosa! Teve uma galera que sumiu na trilha deixando os P.D.R.s pra trás comendo poeira! Mesmo chegando no final e não trilhando a volta, foi maravilhoso o pedal!!!” Isa Cruz
“Muito bom receber vocês em nossa cidade, obrigado a todos!” Júnior e Regina