Por Eldenice Rocha
Dia 11 de Abril, depois de quase 60 dias sem pedalar devido a uma cirurgia no joelho, resolvi olhar o calendário do Pedaguas. O próximo dia 18 estava reservado para o Desafio Cristal – Pedal “difícil ou de matar “ de 110 ou 367 km, à gosto do freguês.
“Meu bem” estava inscrito, mas não estava treinando. Resolvemos então, no dia 12 de Abril, juntamente com Ivson, Delaine e Genival fazer um pedal longo no asfalto, e de quebra, matar a minha vontade de pedalar. Percorremos 60 km com muitas subidas. Um bom treino para o desafio que “eles” enfrentariam no final de semana seguinte.
Senti que o fôlego estava comprometido, mas o joelho estava forte. Aí pensei: – Será que não teria uma vaga pra eu ir também? – Será que eu conseguiria, já que da última vez tive que abortar o pedal nos primeiros quilômetros? Isso ainda estava engasgado… Tanta coisa aconteceu a partir daquele dia! Melhor não falar sobre isso… Mas enfim, tarde demais, nosso presidente disse que a Van estava com lotação completa. Tirei a ideia da cabeça.
Mas para minha surpresa e completa alegria, na quinta-feira, por volta das 23h, vejo uma mensagem no celular que dizia: – “Me liga urgente, surgiu uma vaga!”. Era o Evandro. Corri e liguei, mas já era tarde, ele não atendeu. Mais que depressa deixei recado: – “Quero muito ir, mas preciso me organizar”. Rapidamente fiz uns contatos e resolvi o problema. Rodolfo e Bianca ficariam com o pimpolho. A partir daí a ansiedade tomou conta de mim. Só pensava no desafio. Será que eu conseguiria dessa vez? Apesar de ser um outro percurso, mas não menos desafiador que o anterior, talvez eu não estivesse preparada. Mas eu precisava fazer isso.
Passei mensagem pra meu irmão, Tio Kim, avisando que iria fazer o desafio com o Pedaguas, e ele mais que depressa entrou em contato com Evandro pra ir também. Resposta: – “Sem chance de voltar na Van”. O maluco decidiu ir mesmo assim. Voltaria de ônibus de Cristalina. Mas entendo perfeitamente. Tudo por um desafio!
E às 6h da manhã chegamos em frente à Catedral pra nos juntarmos aos outros. Eles sim estavam preparados. Com alforjes e mochilas lá estavam velhos amigos do Pedaguas. Que felicidade reencontrar esse povo!
O presidente deu as últimas instruções e com um contundente aviso: – “Esse não será um pedal fácil”! Ai meu Deus, me deu um frio no estômago naquele momento! Agora já era. E partimos antes das 7h rumo a DF-140. Tio Kim já ficou na primeira subida dos condomínios. Paramos para esperá-lo no final da subida. Eis que ele surge depois de alguns minutos sendo escoltado por uma das Vans que iria nos buscar. O esperto transferiu sua bagagem para a Van e ainda ganhou uma marmita de macarrão. Nosso amigo Charles, que agora dirigia a Van, iria nos acompanhar no pedal, mas por azar dele e sorte do Tio Kim, a bike dele quebrou. Voltou em casa, pegou a Van e dispensou o motorista. Sortudo esse meu irmão, além da marmita do colega conseguiu também lugar de volta na Van.
Padaria Seleta, primeira parada.
Os grupos já haviam se dividido em pelo menos três pelotões. Alguns lanchando e outros apenas se hidratando. Nesse momento passam por nos dois ciclistas que não quiseram parar. Mais a frente fui informada que eram o Rogério Prestes e o Dario que também estavam indo, mas decidiram girar mais depressa e seguiram viagem. Só os vimos no Rancho Cristaluna! Credo, os malucos chegaram por volta do meio dia!!!!
Depois de pouco mais de 30 km de asfalto pegamos a estrada. Me senti um pouco tensa no começo, já que fiquei tanto tempo sem fazer trilhas, mas logo me aqueci e relaxei. Eu e minha amiga Delaine, únicas mulheres no grupo, pedalamos juntas todo tempo. Foi um tititi danado. Muita conversa pra colocar em dia! Tive até a impressão de que ninguém queria pedalar perto de nos duas. Sinceramente, não entendo o porquê, não é mesmo amiga? Rsrs.
Durante um bom tempo o sol nos agraciou e não apareceu. Pudemos girar bem. Entretanto, a partir das 10h ele começa a castigar, e por sinal, nos momentos de maior inclinação. Eram longas subidas a vencer, mas o visual era belíssimo. Os campos e o cheiro de mato verdes enchiam nossos olhos e pulmões. Apreciei tudo ao meu redor. Quando parava e olhava pra traz não acreditava no que via. Tínhamos a impressão de que íamos tocar no céu, o quão alto nos parecia estar.
Por volta das 11h, em um bar à beira da rodovia, à altura do Km 70 paramos para almoçar. Os rapazes que passaram antes de nós acabaram com o estoque de água. Só nos restou uma bica que corria no quintal. Ali também nos refrescamos do calor intenso que fazia. Mas, segundo o proprietário do boteco a água tinha boa procedência, vinha de uma mina próximo dali. Fazer o quê? Era o que tínhamos. Nos abastecemos de água, comemos nossos lanches e ficamos por ali por aproximadamente meia hora.
Voltamos à trilha. Agora um pequeno trecho de asfalto, mas uma subida que parecia não ter fim. E esse era o último pelotão. Procuramos seguir juntos já que apenas dois colegas tinham GPS e ficar pra traz era um risco grande de se perder. “Meu bem” que o diga. Ele se perdeu logo no começo, quando deixamos o asfalto da DF-140. Segundo relatou, o Antonio Pedro sumiu de suas vistas como um relâmpago. Duvidou que “o cabra” estivesse pedalando tanto e levando tanto peso! Mas justiça seja feita, não é que o Antonio estava mesmo endiabrado. Estava mesmo difícil acompanhá-lo. Antonio Pedro pegou o caminho de terra à esquerda e ele seguiu o asfalto. Mas logo se deu conta e voltou encontrando um grupo que havia parado com pneu furado.
Em alguns momentos o grupo se dispersava. Mas nossa cozinha, pacientemente comandada por Silvio Sá, que ora se adiantava indicando-nos o caminho ora ficava a esperava dos retardatários.
Após a última subida que nos consumiu muita energia, e sob um calor intenso, nosso guia Silvio Sá desvia do percurso alguns metros e nos leva até uma represa simplesmente deliciosa! Nos jogamos na água e por ali ficamos alguns minutos. Ah, sem dúvida essa foi a recarga necessária pra continuar! Acho que tivemos sorte em estar com a cozinha mais paciente do mundo, já que a essa altura, muitos dos nossos amigos já haviam chegado ao fim da trilha. E lá também se deliciavam de banho de piscina e boa comida.
Voltamos pra estrada. Alguns quilômetros percorridos e o grupo se dispersa outra vez. Silvio Sá, apesar de toda paciência que lhe é peculiar, pediu-nos licença e sumiu de nossas vistas como um passe de mágica. Entretanto, tomou o cuidado de demarcar o caminho para que não nos perdêssemos. Assim, seguimos em dois grupos. Um com GPS e um outro seguindo as demarcações deixadas por pneus e galhos cortados.
Faltava pouco mais de 5 km para chegarmos ao Rancho Cristaluna e nada do Tio Kim. Eu não podia seguir deixando-o sozinho. Fiquei a esperá-lo debaixo da chuva fina e muitas trovoadas. Depois de uns 15 minutos ele aparece. Dei Graças a Deus e uma vontade enorme de bater no safado. O gordinho parou pra comer a quentinha de macarrão. Vê se pode?! Seguimos e encontramos com “meu bem” que nos espera logo à frente.
E eis que chegamos ao bendito rancho! Isso foi o que pensamos. Mas ainda tínhamos que descer uma trilha bastante escorregadia e com muita lama que nos levava aos fundos do rancho. E pra ficar estilo Pedaguas, muito mais emocionante, precisávamos atravessar um rio, que por sinal estava cheio. Restou-nos atravessar por sobre uma pinguela de tábua estreita amarrada a um cabo de aço. Ninguém queria atravessar. Eu rapidamente tirei minha sapatilha e joguei-a na mochila. Agarrei-me ao cabo de aço e atravessei. Não sei se tive mais medo da pinguela cair ou da visão do outro lado do rio! Mas era só o Rogério Prestes vestido com a capinha de chuva da Disney do Evandro, todo solista, nos encorajando a travessia. Menino bom esse Rogério! Rsrs
Depois disso, se encorajaram e também fizeram a travessia. Pois bem, sozinho era fácil atravessar, mas, e as bikes? Quem poderia nos ajudar?
“Meu bem”, sozinho, atravessou bike por bike, já que os rapazes ficaram com medinho. Ai, ai! E no fim, se tornou o herói do pedal!
E após 107 km percorridos chegamos ao rancho às 16h. Fomos recebidos com muito carinho pelas pessoas do local. Pessoas simples e de uma bondade ímpar! Tomamos banho, batemos muito papo e comemos uma deliciosa comida caseira.
Todos os outros já de banho tomado e bem alimentados nos aguardavam pra volta pra casa.
E após secarem todas as cervejas disponíveis no local, conseguimos partir. Abraços e desejos de boa sorte aos nossos amigos, Evandro e Antonio Pedro que ainda tinham muito chão pra percorrer. Os dois, juntamente com o Cristóvão, dono do rancho, ainda tinham o restante do desafio a cumprir, que no total iriam percorrer 367 km em 4 dias. Mas essa é outra história que aguardaremos ansiosos pelo relato.
E ao som de muitas piadas e gargalhadas, comandadas por “meu bem” e por Silvio Sá, na van que nos trouxe de volta, e claro, depois de algumas paradas para mais cerveja, chegamos a Brasília, felizes, eufóricos e recompensados de todo o cansaço.
E o que fica de tudo isso? Nada de mais, apenas o prazer de poder desfrutar de momentos e lugares únicos, vencendo cada obstáculo, cada subida como se fosse a última de nossas vidas.
E no final, não precisamos de nada, além de um breve descanso, assim como o pouso da borboleta na minha Jupira, para acordar no dia seguinte planejando a próxima aventura!