A noite que o Pedaguas bombou!

Por Carlos Duarte
Fotos: Lu Pinheiro, Sérgio Camargo e Eldenice Rocha

A noite fria da última terça-feira surpreendeu mas não afugentou os pop-rockeiros. Era uma nova edição extra do pedal “gourmet” e também animou muitos novatos. O resultado? Uma verdadeira ‘bike party’: mais de quarenta ciclistas pedalaram famintos em direção aos espetinhos do Kiosky da Rosa, no Cruzeiro Novo!

 

Quem conhece a nossa origem, sabe que o pedal noturno faz parte de nosso DNA. Foi dentro de um dos pelotões do extinto PN-Águas que o nosso grupo de mountain bike nasceu, sem nunca deixar a ideia dos pedais durante a semana à noite morrer. Duas vezes por semana, ele nos treina e prepara para as trilhas dos sábados, assim como ajuda a estreitar e fortalecer nossos laços de amizade. O das terças prepara os iniciantes ou que estão fora de forma e integra os novatos aos mais antigos e bem preparados. Estes, por sua vez, tem a oportunidade de se manter em movimento e conhecer novas pessoas. Já o das quintas, são as noites para se pedalar forte, o objetivo futuro dos pop-rockeiros e onde os que desejam buscar seus limites se encontram para um pedal longo e mais intenso. À primeira vista, aparenta ser uma boa fórmula, uma combinação equilibrada. E é.

Costumo dizer que nossos pedais noturnos já se tornaram um organismo vivo. Se fosse um animal, eu classificaria como felino: são independentes, possuem hábitos noturnos, gostam de comer e beber bem e detestam chuva! Não demandam novos percursos, nem calendário, sequer puxadores. A turma chega, se entende e pedala. Organizar trilhas é que dá trabalho, exige gente dedicada. À noite, muitos voluntários se revezam mantendo o lado lúdico desses encontros. ‘Pedais sociais’, percursos alternativos, metas estimulantes ou trilhas urbanas sob a lua a cheia, são alguns dos ingredientes comumente usados para manter a turma ‘biciclonotívaga’ unida e sempre estimulada. Pensando assim e aproveitando a volta de alguns colegas das férias, achei que seria o momento ideal para sugerir mais uma edição “gourmet”, uma daquelas raras vezes que o grupo combina fazer uma parada no meio do percurso para um bagunçado e divertido lanche, que costumam dar um bom lucro aos comerciantes, – depois de quase leva-los à loucura com a nossa chegada repentina, claro – uma característica cada vez mais frequente do nosso grupo, a de movimentar atipicamente certos segmentos da economia local.

Então segui o roteiro de sempre: uma chamada para o pedal em nossas páginas do Facebook e Yahoo!, pensando em adaptar um bom roteiro já desbravado antes pelo Sílvio Sá e Alexandre Bastos. Até momentos antes do pedal, eu era o único que sabia qual seria o roteiro daquela noite. É claro que sempre existe a possibilidade de mudanças de última hora, mas a ideia de fazer uma parada gastronômica inédita no conhecido Kiosky da Rosa, praticamente amarrou o percurso e dificilmente encontraria resistências. Na teoria, tudo muito bem. Pena que não demorou muito para a prática revelar uma  incômoda realidade.

Cheguei no ponto de encontro quase na hora da saída. A imagem que vi me fez tremer as pernas e quase cair para trás de surpresa. Um verdadeiro mar de gente, bikes, capacetes e luzinhas piscando, como nunca visto antes em um Pedal Pop Rock, certamente. Naquele momento, reconhecendo alguns rostos em meio a tantos outros desconhecidos, eu ainda não havia percebido que também era o recorde de comparecimentos em um pedal do Pedaguas. A aglomeração chamou a atenção dos transeuntes do bairro, alguns observando à distância e outros se misturando aos ciclistas, curiosos em saber do que se tratava. O relógio rapidamente empurrou de lado a minha satisfação, a mesma que todos sentiam por perceberem estar fazendo parte de um momento inédito. A responsabilidade de conduzir tanta gente pelas ruas de Brasília, justamente em uma noite de percurso inédito, por um momento pesou. E o percurso previa a passagem do pelotão por alguns trechos movimentados, como a via EPTG. Procurei meus colegas mais experientes, e após ouvir suas preciosas opiniões, resolvi manter o plano inicial. Após uma rápida explanação do percurso, as apresentações dos novatos e as normas de segurança, respirei fundo e partimos rumo ao Cruzeiro Novo.

Acho interessante como bastam as primeiras pedaladas e qualquer problema, tensão ou preocupação se esvai imediatamente pelos pneus, como por mágica, só quem pedala pode saber do que estou falando. O único incômodo que ainda restou foi o de ter errado na escolha de pedalar sem agasalho. O calorzinho de 24 graus do momento da saída foi rapidamente substituído por um ventinho frio, daqueles de gelar os ossos. Exibindo suas luzes, gargantas, buzinas e apitos, o barulhento e reluzente pelotão serpenteou sólido e unido pelo trânsito brasiliense. Congestionamos alguns trechos das vias,  fazendo os carros nos darem preferencialmente a passagem.

Chegamos “chegando” no local da parada, chamando a atenção dos moradores dos arredores, que correram às janelas dos apartamentos tentando entender aquela algazarra.

Normalmente nossas paradas “gourmet” não costumam levar mais do que vinte minutos. O problema foi que a quantidade de pedidos demorou para ser anotada e acabou congestionando a cozinha do local também.

Isso causou insatisfação em alguns, que preferiram se separar do grupo e voltar mais cedo. Então acho importante esclarecer que gostamos mesmo é de pedalar. Uma edição “gourmet” só ocorre de tempos em tempos, esses percalços são irrelevantes e compreensíveis, tanto pelo ineditismo quanto pelo caráter de confraternização que um evento desse possui.

Voltamos para Águas Claras com o frio nos trazendo à mente aquele enigma persistente: pedalar mais rápido nos esquenta ou nos esfria pela maior velocidade? Tenho certeza que todos se fizeram a mesma pergunta, porém sem chegar à nenhuma boa resposta. Continuamos na busca! O melhor é que também fizeram  novas amizades e voltaram felizes para suas casas, no fim isso é o que realmente importa. E que seja assim sempre! Para não variar, a noite terminou em… buteco!

2 respostas em “A noite que o Pedaguas bombou!

Deixe um comentário